Curiosidades da Lista de 100 Melhores Filmes do Século XXI da New York Times
Cavuquei informações, cruzei dados e cheguei a algumas conclusões que não querem dizer muita coisa
Um jornal famoso no mundo todo que fica na cidade de Nova Iorque nos Estados Unidos reuniu cerca de 500 pessoas entre críticos, cineastas e quem eles deram na telha para cada um escolher 10 filmes desde o ano 2000 até 2025 entre os seus favoritos. No começo não dei nenhuma importância, porque em apenas um quarto deste século já vi centenas dessas listas falando do século XXI, sendo que nem é a melhor era do Cinema, essa arte que já está decadente. Pra piorar, esta lista e todas as outras que vi não leva em consideração que o ano 2000 faz parte do século XX, e mesmo assim todas elas consideram esse ano (tem 6 filmes dos 100 que são de 2000, pra mostrar que esse século nem tá tão bom assim). Mas como parece que se assistem cada vez menos filmes “antigos”, e talvez por dar um boost a essa industria, relembrando de títulos familiares a nossa geração de pessoas que ainda estão em atividade, ou apenas gerar engajamento, levantar burburinho, e aproveitar um ano “redondo”, ta aí, mais uma lista que ninguém pediu, mas que não deixa de gerar certo fascínio pelo próprio conceito da coisa, sem esforço algum: amontoar, ranquear e comparar vários filmes que não tem muito a ver um com o outro, apenas por se encontrarem num período parecido de tempo, é sempre empolgante para mente cinéfila. Vejam o Oscar que está completando quase 100 anos para provar, e com isso, muitas análises, debates, polêmicas, e claro, listas provenientes dessa premiação.
Quando menos percebi, já estava olhando a lista durante vários minutos e, enquanto não estava, tentei escrever os 100 filmes de cabeça só pra ver se eu tinha decorado. O fato de eu ter assistido 97 dos 100 filmes, significando que conhecia muito das obras porque era contemporâneo a elas e com algumas informações que eu sabia de cor, e outras que fui checar, resolvi anotar alguns dados na minha página da rede social threads, e quando vi que estava indo longe demais, achei melhor abrir um lenço em branco nesse site para reunir de maneira mais coesa e séria essas trivialidades.
Para ver a lista completa dá pra acessar as redes sociais do New York Times, ou sua página na internet. Mas baseei toda minha informação nessa lista do letterboxd que aparentemente um dos editores do jornal postou.
Influência do Prêmio da Academia de Artes Cinematográficas - O Oscar
45 filmes dos 100 da lista foram indicados ao Oscar de Melhor Filme. Provavelmente por aumentarem o número de indicados depois de 2009. E 10 dos 100 ganharam a categoria de Melhor Filme do Oscar: Parasita (1°), Moonlight (5°), Onde os Fracos não tem vez (6°), Os Infiltrados (31°), 12 Anos de Escravidão (51°), Oppenheimer (65°), Spotlight (66°), Guerra ao Terror (68°), Tudo em todo lugar ao mesmo tempo (77°) e Gladiador (92°).
Os filmes indicados a Melhor Filme e que não levaram são, por ordem cronológica: O Tigre e o Dragão (2000), Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel (2001), Encontros e Desencontros (2003), O Segredo de Brokeback Mountain (2005), Pequena Miss Sunshine (2006), Sangue Negro (2007), Um Homem Sério, Up, Bastardos Inglórios (esses três de 2009), A Rede Social, A Origem, Cisne Negro (esses três de 2010), Moneyball, A Árvore da Vida (ambos de 2011), Amor (2012), O Lobo de Wall Street, Gravidade, Her (esses três de 2013), Whiplash, Boyhood, O Grande Hotel Budapeste (esses três de 2014), Mad Max Estrada da Fúria (2015), A Chegada (2016), Me Chame Pelo Seu Nome, Trama Fantasma, Lady Bird, Get Out (esses quatro de 2017), Pantera Negra, Roma, A Favorita (esses três de 2018), Era Uma Vez em… Hollywood (2019), Tár (2022), Vidas Passadas, Zona de Interesse, Anatomia de Uma Queda (esses três de 2023). Os anos de 2002, 2004, 2008, 2020, 2021 e o recente ano de 2024 não tem nenhum representante da categoria de Melhor Filme do Oscar nessa lista.
Dos 100 filmes da lista, 81 foram indicados ao Oscar por qualquer uma das categorias. Os 19 que não foram indicados a nenhuma categoria do Oscar foram: Zodíaco (19°, 2007), Amor a Flor da Pele (4°, 2000), Retrato de Uma Jovem em Chamas (38°, 2019), Yiyi (40°, 2000), Oldboy (43º 2003), Embriagado de Amor (56º, 2003), Best in Show (57º, 2000), Joias Brutas (58º, 2019), Sob a Pele (69º, 2013), Deixe Ela Entrar (70º, 2010), Ocean's Eleven (71º, 2001), Melancholia (84º, 2011), O Âncora (85º, 2004), Os Catadores e Eu (88º, 2000), Frances Ha (90º, 2012), Fish Tank (91º, 2009), o Homem Urso (98º, 2005), Memorias de um Assassinato (99º, 2002) e Superbad (100º, 2007). Dá pra perceber que tem mais filmes que não foram indicados a nada na parte de baixo na lista do que em cima, como uma pirâmide.
Sobre quem assina a direção
Os filmes não são iguais livros cujos autores assinam o trabalho de uma obra, mas adotamos a Teoria do Autor que os franceses da Cahiers du Cinéma postularam, onde em outras palavras, o diretor/a é quem gera a criança. Mas vamos a eles.
São 80 diretores na lista de 100 filmes, onde 5 deles dividem a direção com outra pessoa (o Ethan Coen por exemplo, divide a direção e 3 dos 4 filmes com Joel Coen) e apenas os homens tem mais de um filme seu inclusos. São 11 mulheres diretoras com 11 filmes diferentes, com Cidade de Deus, co-dirigido por Kátis Lund com Fernando Meirelles na posição mais alta, em 15º. Depois temos Encontros e Desencontros da Sophia Coppola na posição em 30°. Os outros nove são Retrato de uma jovem em chamas (38º, Céline Sciamma), Lady Bird (39º, Greta Gerwig, estreia), Toni Erdermann (59º, Maren Ade), Pequena Miss Sunshine (63º, Valerie Farris que divide a direção com Jonathan Dayton), Guerra ao Terror (68º, outro vendedor de melhor filme e direção para Kathryn Bigelow), Aftersun (78º, Charlotte Wells na estreia), Vidas Passadas (86º, Celine Song, estreia), Os Catadores e Eu (88º, da lenda Agnes Varda R.I.P.), e Fish Tank (91º, Andrea Arnold). Desses 11, 4 são dirigidos por nascidas em solo americano e apenas 1 documentário.
Um total de 3 documentários na lista dos 100, com o já mencionado Os Catadores e Eu, Act of Killing (82º) e O Homem Urso (98º).
Também é notável muitos jovens diretores e até com projetos de estreia aparecendo (Whiplash, Corra, Lady Bird) em detrimento de veteranos "cancelados" e em fim de carreira, mesmo vendedores de Oscars nos anos 2000 e aclamados pela crítica em trabalhos deste século como Woody Allen (Match Point), Roman Polanski (O Pianista) e Clint Eastwood (Menina de Ouro). A bússola moral fala alto em listas onde não há anonimato e até por desempate se prefere colocar filmes onde não há esse tipo de controversia.
Apenas 2 diretores são falecidos que dirigiram filmes da lista dos 100: Agnes Varda (Os Catadores e Eu, 88º) e David Lynch (Cidade dos Sonhos em 2º) e são apenas 11 diretores com carreiras longas suficientes para terem filmes na década de 1970. Além dos dois citados: Hayao Miyazaki (A Viagem de Chihiro, 9º), George Miller (Mad Max Estrada da Fúria 11º), Martin Scorsese (O Lobo de Wall Street em 20º e Os Infiltrados em 31º), Michael Haneke (Amour, 75º), Terrence Malik (A Árvore da Vida, 79º), Pedro Almodóvar (Volver em 80º), Ridley Scott (Gladiador, 92º), Steven Spielberg (Minority Report, 94º) e Werner Herzog (O Homem Urso, 98º).
Christopher Nolan tem 5 filmes: O Cavaleiro das Trevas (28º), A Origem (55º), Amnésia (62º), Oppenheimer (65º), Interestelar (89º) é o diretor com mais representação entre os 100; com 4 filmes cada: Alfonso Cuaron com Filhos da Esperança (13º), E Sua Mãe Também (18º), Roma (46º) e Gravidade (97º), Paul Thomas Anderson com Sangue Negro (3º), Trama Fantasma (25º), O Mestre (42º), Embriagado de Amor (56º) e os irmãos Coen com Onde os Fracos Não Tem Vez (6º), Um Homem Sério (36º), E Aí Meu Irmão Cadê Você? (76º), e Inside Llewyn Davis (83º); com 3 filmes: Quentin Tarantino com Bastardos Inglórios (14º), Era Uma Vez Em… Hollywood (44º) e Kill Bill Vol. 1 (61º) e David Fincher com A Rede Social (10º), Zodiaco (19º) e Garota Exemplar (64º). Com 2 filmes: Richard Linklater com Boyhood(23º) Antes do Pôr do Sol (49º) e , Spike Jonze com Adaptação (27º) e Her (24º) - me pegou de surpresa esses dois filmes na lista, Bong Joon Ho (Memórias de um Assassinato em 99º e Parasita em 1º), Wes Anderson com Os Excêntricos Tenembaums (21º) e O Grande Hotel Budapeste(22º), Martin Scorsese (já mencionados no parágrafo acima), Jonathan Glazer com Sob a Pele (69º) e Zona de Interesse(12º) e Ang Lee com O Tigre e O Dragão (16º) e O Segredo de Brokeback Mountain (17º)
Globalização?
Dos 100 filmes, 24 são predominantemente falados em idioma não-inglês. São 11 idiomas diferentes, sendo 6 em francês, a terra de origem do cinema com Anatomia de uma Queda (26º), O Profeta (35º), Retrato de Uma Jovem em Chamas (38º), O Fabuloso Destino de Amelie Poulain (41º), Amor (75º), Os Catadores e Eu. São 4 filmes falados em espanhol, com 3 de diretores mexicanos (E Sua Mãe Também em 18º e Roma em 46º do Cuaron e O Labirinto do Fauno em 54º de Guillermo Del Toro) e 1 da Espanha, Volver (80º) do Pedro Almodovar. Mesmo com 2 Oscars recentes, Alejandro Iñarritu teve 0 filmes entre os 100, já seu conterrâneo Alfonso Cuaron teve 4, (além dos dois mencionados, Gravidade e Filhos da Esperança em 13º. A lista tem 3 filmes falados em alemão: Zona de Interesse (12º), A Vida Dos Outros (48º) e Toni Erdmann (59º). 3 filmes sul-coreanos, dois deles dirigidos pelo Bong Joon Ho: Memórias de Um Assassinato (99º) e Parasita (1º) e Oldboy (43º) do Park Chan Wook. 2 em mandarin: O Tigre e o Dragão (16º) e Yiyi (40º). 1 em cantonês: Amor À Flor da Pele (4º). 1 em português, o brasileiro A Cidade de Deus (15º). 1 em norueguês: A Pior Pessoa do Mundo (95º). 1 sueco, Deixe Ela Entrar (70º). 1 japonês, A Viagem de Chihiro (9º) e 1 persa, o iraniano A Separação (33º).
Lógico que esses 24% chamam a atenção por não ser uma lista muito eclética, devido aos votantes que imagino serem na maioria estadunidenses. Spotlight ser um dos 10 vencedores do Oscar de Melhor Filme a estar na lista mostra um pouco que um filme de jornalismo impresso pode se destacar numa lista de jornal que ainda é impresso. Mas desses 100 filmes, 46 foram dirigidos por diretores que não nasceram nos Estados Unidos, mesmo que as produções desse país realmente seja a predominante entre os votantes. A América de imigrantes.
Considerações muito pessoais
Já acessei a lista preparado pra ver as coisas mais manjadas e muito faladas dessas últimas décadas, mas teve alguns filmes que me surpreendi positivamente por ter mais fãs do que eu imaginava e alguns que medem a temperatura dos votantes que me pergunto se perdi alguma coisa.
Nicolas Cage foi bem representado em Adaptação, mas acho que Her do mesmo diretor não precisava.
Um Homem Sério dos irmãos Coen também foi uma grande surpresa: um filme tão pessoal da dupla, sobre a comunidade judaica, com uma mensagem e conclusões confusas demais, me admirou muito os votantes considerarem todo o realismo fantástico ser algo que os represente aqui.
Acho que as críticas ao filme Roma só ficaram na América Latina mesmo, pois ainda está em alta estima entre os votantes. Agora “E Sua Mãe Também” é uma surpresa maravilhosa, meu filme favorito do Cuaron no top 20 da lista
Os destaques negativos deixo para Michael Clayton (título genérico Conduta de Risco no Brasil), que só vi na época e não tinha nem ideia que era tão querido. A galera anda vendo Andor (que só acho “ok”) e ficando alucinada pelo criador Tony Gilroy. Talvez uma carência de filmes jurídicos expliquem isso, assim como o recentíssimo Anatomia de Uma Queda estar numa posição tão alta, merecidamente.
Up Altas Aventuras: pra mim um filme fraco e muito infantil da Pixar que poderia ter sido substituído se não por outros do mesmo estúdio (Os Incríveis e Procurando Nemo) por animações de outros estúdios (Shrek, Kung Fu Panda) ou até fora dos Estados Unidos (Persépolis ou mais algum da excelente indústria japonesa como Ponyo e Your Name).
E claro, Spotlight. Acho que a ressaca do Oscar no dia seguinte de não terem dado o prêmio principal para Mad Max Estrada da Fúria não é tão real quanto disseram
Agora calma que é minha vez
Quando completei 33 anos eu fiz um vídeo no TikTok onde coloco um filme favorito para cada ano em que vivi, então não estou afim agora de escolher meus 10, não preciso disso, sem falar que escolher só 10 é uma grande injustiça, e como ninguém veio formalmente me perguntar, deixo pra próxima.
Mas…
Eu fiz uma lista reordenando os 97 filmes escolhidos pela New York Times segundo meus favoritos no ranqueamento, porque tem 3 que ainda não assisti: Yiyi (40º), Best in Show (57º) e The Act of Killing (82º). Dá vontade de fazer uma lista de 100 filmes pessoais do século, mas me acanho porque acho que deveria ter visto mais para poder opinar. Amei ter feito essa reordem e acho sim que ficou bem melhor que a original.
https://letterboxd.com/sergioemd/list/mesmos-filmes-minha-ordem-new-york-times/